segunda-feira, 5 de março de 2012

de frofundis amamus

Ontem
às onze
fumaste
um cigarro
encontrei-te
sentado
ficámos para perder
todos os teus eléctricos
os meus
estavam perdidos
por natureza própria.


Andámos
dez quilómetros
a pé
ninguém nos viu passar
excepto
claro
os porteiros
é da natureza das coisas
ser-se visto  
pelos porteiros

Olha
como só tu sabes olhar
a rua os costumes
  

O Público
o vinco das tuas calças
está cheio de frio
e há quatro mil pessoas interessadas
nisso


Não faz mal abracem-me
os teus olhos
de extremo a extremo azuis
vai ser assim durante muito tempo
decorrerão muitos séculos antes de nós 
mas não te importes 
não te importes
muito 
nós só temos a ver
com o presente 
perfeito 
corsários de olhos de gato intransponível 
maravilhados    maravilhosos    únicos 
nem pretérito nem futuro tem 
o estranho verbo nosso  
                            Mário Cesariny                       

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