quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

És o resto


Hoje vi uma foto que tirei sozinho, quando digo sozinho, digo porque foi num momento em que naquele sítio só nosso, não estavas lá, eu estava só. Foi no momento em que saíste, em que achei que te tinha perdido, foi no momento em que não percebi, em que me virei para o mar e tirei a foto, no momento em que me perdi em pensamentos dos quais não contavas, saíste de uma só vez e eu nem te vi sair. Mas mesmo que não tivesses saído, naquele momento eu estaria sempre só, porque tu não servias para um momento de reflexão e paz, naquele sol pálido, com o mar ao fundo. Estavas lá sempre comigo, mas era sempre diferente, sempre risos, sempre felicidade, sempre sonhos, sim, já sonhavas, eu já sonhava, mas tu sonhavas mais, sonhavas quando vias dois besouros, quando passeavas nas dunas, rebolavas na areia. Crescemos. Serei sempre o mais velho, sempre, mas depois de te perder, só quando te voltei a ter me apercebi do que foi estar sem ti. Não compreendo como não dei por saíres, como não te vi a chegares à falésia onde eu estava, como não te vi a olhares para mim e a voltares para trás. Agora tudo é diferente, tudo é paz, tudo é calmo, tudo é o que deve ser, ainda não és a pessoa das reflexões, a pessoa dos problemas, da paz, talvez nunca venhas a ser, mas és o resto, os risos, a alegria, o companheirismo. E já nos conhecemos a tanto tempo… crescemos juntos e tudo fez parte.

Não te vejo.

Não te vejo, estás longe. Não vejo o teu sorriso, as covinhas do teu rosto, o teu olhar tímido e malandro, o teu andar elegante e perdido… a tua figura, que nas mais belas ruas já faz parte da paisagem.
Deixei-te, ficaste longe de mim e no meio de tudo comecei a perder-te nos meus pensamentos. Agora não subo escadarias contigo, ou passo nas barreiras do metro, não foges da minha objectiva e não me… Estás longe, tão longe… mas quando penso que não podias estar mais distante alguém diz: “Sim, ele deixou o recado com…” e no fim da frase… o teu nome, “saio” do meu estudo, invades a minha cabeça como um vírus. O teu nome acorda-me e não me vai deixar concentrar. Como é que te tornas-te em algo concreto no meu meio, algo certo, que familiaridade é esta agora com os meus? Porque surge assim o teu nome, com tanta naturalidade, como se sempre lá estivesses? Mas não estás, estás longe. E eu, eu fujo de ti, fujo em Fevereiro, que seria nosso, fujo em Agosto que seria teu. E não sei, longe dos teus olhos, não sei se os teus olhos são ainda meus, se os meus são ainda teus.
Quero escrever, mas não sobre ti. Quero ver-te, estar contigo. Andar de mão dada, as nossas luvas, aquele frio… Imagino-te a chegares a casa, como quando te vi pela última vez, vinhas da biblioteca e disse-te:”adeus…….”.