quinta-feira, 5 de maio de 2011

Anjo

Dias depois de receber aquela carta soube que não estava sozinho na praia. Senti a sua presença na brisa do alvorecer mas não quis nem consegui voltar a fugir. Aconteceu uma tarde, quando me sentara a escrever diante da janela, enquanto esperava que o Sol mergulhasse no horizonte. Ouvi os passos sobre as tábuas de madeira que formavam o molhe e vi-o.
(...), vestido de branco, caminhava pelo molhe e trazia pela mão uma menina de uns sete ou oito anos. Reconheci imendiatamente a imagem, aquela velha fotogradia que Cristina guardara toda a vida sem saber de onde provinha. (...) aproximou-se do final do molhe e ajoelhou-se junto da menina. Comtemplaram juntos o sol que se derramava sobre o oceano numa infinita película de ouro cadente. Saí da cabana e avancei pelo molhe. Ao chegar ao fim, voltou-se e sorriu-me. Não havia ameaça nem rancor no seu rosto, apenas uma sombra de melancolia.
- Tive saudades suas(...) - disse - Tive saudades das nossas conversas, até das nossas pequenas discussões...

por Carlos Ruiz Zafón em "O Jogo do Anjo"