quarta-feira, 1 de abril de 2009

Verão 78

Saio do escritório, são cinco horas da tarde, segunda-feira, 24 Julho de 1978, é o primeiro ano em que consigo um trabalho de verão decente, mas este fatinho mata-me com calor, estou no meio da passadeira em frente ao escritório, no refugio dos peões, enquanto espero pela boleia da Maria. A Maria é uma rapariga muito à frente para a nossa época, sempre achei, o estilo dela talvez ficasse bem num sítio como a Alemanha Ocidental ou assim, mas a verdade é que ali nas Avenida Novas de Lisboa desperta alguma atenção… mesmo no clima pós 25 de Abril que ainda se vive. Enquanto espero observo o autocarro verde de dois andares, com um anúncio da Nicola Cafés, que antes costumava apanhar para ir ter com o Rui, antes dele imigrar tínhamos o hábito de às segundas ir até São Sebastião ter com alguns amigos, a bela da nova nata como ele dizia, mas agora é Verão e junto dinheiro para as férias em Agosto, vejo a Maria a chegar no seu Mini amarelo.
“Entra, entra, ai! Que calor não é?
“Realmente, importas-te de passarmos pelo fim da Av. de Roma antes de irmos ter com eles? Queria tirar este fato.”
“Não claro que não, ainda é cedo, eles ainda devem demorar e a esplanada ainda deve estar cheia”
“Boa, HEY, cuidado, aquele condutor! APITA!!!”
“Apito? Oh mas… está bem.”
“Olha, passado tanto tempo não vale a pena, ele já não percebeu que era para ele… há coisas que só importam dizer no momento, é como apitares fora de tempo, perde todo o significado.”
“Sim, já se foi… deixa, já passou, já não tem importância.”
“Nenhuma…”