Na infinidade do seu espanto contornou uma dezena de pessoas silenciosas. Moviam-se, mas Binyamin, talvez pela quantidade de informação visual que o seu cérebro estava a processar, não as ouviu. Tudo lhe parecia de um silêncio atroz. No mar viu reflectidas as luzes douradas das velas que aquele grupo desorganizado segurava nas mãos e que contrastavam com o reflexo prateado das estrelas no mar escuro. Apercebeu-se de chegar ao mar sentindo a areia fria entre os seus dedos.
Sobressaltou-se com a interferência fria que se ouviu de um grande aparelho electrónico, um qualquer intercomunicador portátil de onde ouviu uma voz feminina, numa tristeza perdida, numa língua qualquer, perdida de esperança e que lhe pareceu tão distante. Foi quando os viu.
Dois jovens de cabelos curtos e claros, de calças de ganga escura e com os pés na areia, encontravam-se virados um para o outro sem espaço entre si. Um deles (o que Binyamin julgou mais baixo) encontrava-se com os braços dobrados em direcção ao próprio peito, segurando algo que o abraço apertado do outro rapaz não deixava adivinhar. Separaram-se no momento em que uma menina se agarrou à sua perna. Binyamin sentiu o frio da pequena mas por alguma razão não conseguiu desprender a atenção dos outros dois.
O mais baixo mostrava agora nas mãos o que antes não se conseguia ver, um pano escuro e baço que lhe fugia das mãos e que parecia envolver algo do tamanho de uma laranja. Ao deixar cair o pano revelou ao outro um objecto completamente negro. Aproveitando o desprender da menina, Binyamin aproximou-se e vislumbrou um objecto quase oval, coberto de placas semelhantes a escamas que lhe pareceram de obsidiana. Em determinados locais essas placas convergiam de forma a formar pequenos espinhos, reparou então que as mãos do rapaz mais baixo se encontravam repletas de cicatrizes recentes reflexo do seu profundo sentimento de cuidado e preocupação pelo objecto.
Binyamin recordaria sempre como o outro rapaz colocou as suas mãos junto às do primeiro e como juntos colocaram o objecto sobre a areia húmida. Binyamin percebeu que mesmo que as suas mãos estivessem livres de cicatrizes o objecto era igualmente dele. Juntos desprenderam-se de tudo.
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