Cheguei e não me falavas. Nada, um “olá”, um “com licença”, e eu nem conseguia olhar para ti. Mas depois de almoço, estava deitado na beira da piscina, de olhos fechados postos no céu, vieste a nadar e tocaste-me suavemente ao longo do braço, puseste-me uma folha de uma qualquer árvore daquele jardim na mão e fechaste-a em redor dela, puseste a tua boca molhada na minha mão, os teus dentes a pressionar o meu mindinho como se me estivesses a dar uma pequena mordedela, como se me tivesses a chamar à atenção, mergulhaste. Já depois do jantar, dos jogos de cartas noite fora, estavam todos na piscina, eu já tinha saído e como tinha frio fui buscar um casaco, ficaste na piscina a rir-te, ouvia o teu riso parvo, fiquei encostado ao carro, já com o casaco posto a pensar em como estavas contente, e não percebia então nada, o pouco (o nada) que me falavas, aquele momento na piscina, nada. Estava a voltar quando vinhas na minha direcção, acabado de sair da piscina, completamente encharcado, só de calções, não sabia se vinhas ter comigo ou se também ias ao carro (ou fazer outra coisa qualquer?) e então continuei a andar em direcção ao jardim, quando passávamos um pelo outro senti-me hesitar e quando já tinha passado por ti voltas atrás e pressionas-me contra aquela casa de jardim, contra aquela porta, estavas cheio de frio e tirei o casaco para te dar (“Toma”). Aceitas-te (deste-me um “O.K.”) e atiras-te o para longe, seguraste-me nos pulsos, olhaste-me fixamente, quase ameaçador, olhaste-me de baixo e beijaste-me como seu nunca me tivesses beijado antes, senti o teu cabelo a molhar a minha face e então disseste que tinha de te enfrentar. Só ouvia os risos dos outros, só pensava que não sabia nada, que queria sair dali. Tirei a folha do bolso dos calções e dei-ta. Não sei, a tua cara era algo que não consegui decifrar, um misto de ternura, frustração, alegria? Não sei mesmo, mas, sem desviar os olhos, colocaste a mão no meu peito, depois a outra, depois chegaste-te mais a mim, e quanto eu já estava molhado colocaste a folha no meu peito, alisaste-a com o dedo, e ela ali ficou, aderiu perfeitamente e tu olhavas para mim e para a folha e eu levei a minha mão à tua. Disseste: “Tudo o que sei é que estou a tentar, podes deitar fora a folha mas não a devolvas, podes fazer com ela o que quiseres, mas eu dei-ta percebes?! Eu tentei e agora tu é que sabes o que fazes com ela João!”. E nessa noite que estava cada vez mais fria senti-me quente, como não me tinha sentido no sol dessa tarde. Afastaste-te um pouco e ficaste ali a à minha frente, cheio de frio, abraçavas-te a ti próprio, olhando para mim como que esperando uma reacção, e eu disse:” Vês? Não devias ter atirado o casaco! Macaquinho”. Deste-me aquele sorriso parvo que antes tanto me irritava e então dei-te finalmente a mão.
Agora já sei. 17-07-10
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