terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Verdugos

“I say to you. I say to you to trust in God. And not in the vanities of this world. Cause if I have done so, I think I would still be alive, as you are now.”
The Tudors.


Condenados. A fazer sofrer, um por um. Se pudesse escolher, punha o sofrimento nos meus inimigos e não nos meus aliados. Mas como estes estão aqui, tão perto… tão perto que consigo torna-los inimigos, e assim, assim os posso fazer sofrer.
A lâmina desce, o sangue cobre as roupas do carrasco, ouve-se um baque, leve, inaudível, a multidão odiosa tudo cobre, todos os sons, todas as verdades. O padre reza, o verdugo, ainda que com a cara tapada, cobre a vista para se proteger do sol, não possa este quebrar a mentira e roubar-lhe o trabalho. E vem um, e outro, e numa linha que parece infinita, os condenados são arrastados. A cabeça desce, o corpo estremece, sem vida, sem alma, mas vivo. Os órgãos ainda vivem, morrerão, mas não ali, de onde são arrastados, juntos, como sempre estiveram, e dão lugar a outro corpo, a mais uma morte.
E na janela, presa na torre, ela chora, pelo seu irmão, pelo seu amigo, pelo estranho e por quem lhe foi fiel. E amanhã será ela, mas agora, agora que tudo se perdeu, ela é quem realmente é, uma verdadeira amiga, uma verdadeira irmã, e chora, pela dor que causou, pela vida que perdeu, ainda que lhe reste um dia, esse dia já não será vida. Pecadora e para muitos merecedora da morte, arrastada por crimes que não cometeu. Quando cometes crimes pelos quais podes ser acusado, porque te julgam por crimes que não cometeste? Qual será o prazer de te acusarem injustamente?

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Casa de Espelhos

Escutava e via, corria, ria, emocionava-me, crescia, caía, partia para outra.

Na Casa dos Espelhos via-me, via-me e via-os, a mim e a eles, a eles e a mim, a eles, a eles, a eles, a eles…, e só eles importavam, só eles, as pessoas, os amigos, os companheiros, os conhecidos, os amigos, os amigos…

Na Casa dos Espelhos entravam outros, e eu via-os e eles estavam lá, e por lá continuavam, e por lá eu os continuava a ver, e via também os amigos, e ouvia, e falava, e falava, e ouvia.

Na Casa dos Espelhos deixei de os ver, mas via outros, e esses também falavam, falavam e abafavam os outros, e dos outros que antes ouvia e via, deixei de ver, e passei a ouvir, a ouvir, a ouvir o eco, longe, abafado, o eco, e chorava pelo eco, e o eco ia-se, e fiquei eu, o eco e eu, eu e só eu, eu e os novos, os novos e eu.

E com os novos me rio, e corro, e caio, e emociono-me.

Mas agora sinto falta dos antigos… Sinto a vossa falta e não vos consigo ver!

Merda!